sábado, 16 de outubro de 2010

Tem que ter tema

Acho que foi o feriado, mas ontem eu não me dei conta de que era quinta-feira e não escrevi nada. Recebi um e-mail de uma amiga cobrando o texto, "Hoje é quinta-feira!", e prometi mandar hoje. Dei então com um buraco nas ideias, uma falta de assunto crônica, um não-tem-o-que-falar-fica-quieta daqueles.
Opa! Isso é tema. Tudo vira tema, na verdade, quando é para escrever. Porque todo pensamento, toda conversa, todo fato é uma linha escrita em potencial.
Tudo bem, vamos lá. Não, espera, vou tomar um café.
Voltei. O telefone tocou. Atendi.
Recebi um e-mail com receitas, vou ler.
Recebi uma correspondência, vou assinar.
Me deu vontade de ir ao banheiro, levantei.
Pronto, agora vai.
Certo, estou mesmo sem assunto. É uma coisa estranha ficar sem assunto, eu falo sem parar o dia todo, telefono sem parar, escrevo coisas sem parar. Será que secou? Meu Deus, estou seca! Desse mato não sai coelho.
Respiro.
Me lembro então de uma crônica de jornal, de um dos meus escrritores preferidos, que tratava justamente desse "tem que ter tema toda semana", às vezes tão difícil. Ele contava que entrava em estado de alerta, buscando em todos os movimentos das coisas e das pessoas um motivo para escrever. Saía de casa, dava uma volta, achava um assunto, descartava, achava outro, escrevia, amassava, jogava tudo fora.
Por que escrever então, se não há do que falar? Porque não me conformo com "não ter o que falar", a gente sempre tem, se procurar bem. Escrever vira hábito, depois mania, por fim paixão. Escrever satisfaz, receber elogios satisfaz mais ainda; dá vontade de escrever mais coisas, tudo vira assunto de repente (apesar de hoje não ter virado nada).
Isso. Na verdade o texto de hoje é uma declaração de amor à escrita, tão arredia e tão difícil de dominar. Queria dominá-la, mas hoje vejo que o contrário aconteceu.

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