sábado, 16 de outubro de 2010

Ai que dó!

No caminho para casa, na hora do almoço, dou com a seguinte conversa, entre duas adolescentes:
"Vamos passar lá em casa pra você ver meu cachorrinho!?"
"Credo, eu odeio cachorro."
"Ai que dó! Ele é tão pequenininho, achei que você ia gostar."
"Não."
Curta e grossa a amiga. Até se parece comigo. Mas qual será o motivo da dó da outra?
Quando eu era pequena a coisa que mais me entristecia era ver os cachorros de rua tomando água da poça. Me deixava realmente muito mal. Eu chorava, decerto para ajudar a encher a poça.
Depois de crescida eu simplesmente deixei de amar os cachorros. Principlamente depois que a Suzy foi embora. Suzy era minha cachorrinha, uma mistura de vira-lata e vira-lata (as pessoas tem mania de se referirem a seus cães vira-latas como mistura de algo, para lhes conferir um pouco de glamour, talvez), bravíssima e temperamental. Era eu chegar perto e ela rosnava com muita raiva. Muita mesmo. Ela me odiava, mas era tão chique e se sentava de maneira tão elegante no sofá...Que eu tinha uma simpatia por ela! Acho que porque essas características também sempre me foram comuns - rosnar por pouca coisa e sentar elegantemente no sofá.
Por ironia do destino ela morreu justamente...Caindo do sofá, já bem velhinha. Acho que isso mexeu com algo dentro dela (no sentido fisiológico, não no filosófico) e ela grunhiu e morreu alguns minutos depois. Deste dia em diante passamos todos na minha casa a manter seguro distanciamento de cachorros. Para que não nos apeguemos e para poupar o trabalho.
Há quem ame os bichos, como a menina que convidou a amiga para ver a "coisa mais bonitinha", mas há quem não sinta por eles nada de especial. Quando vou a casas de amigos que tem bichos, e estes querem contar as peripécias deles, me dá uma vontade imensa de bocejar. Ou de ir embora. Mas fico com dó do amigo, e ouço, com cara de paisagem.
A outra que deveria ter dó da amiga e poupá-la de tão desestimulante visita.
Vai então um conselho para os que tem bichos: não ocupe os outros com a cria da sua cadelinha, ou a palavra nova de seu papagaio a menos que tenha absoluta certeza de que seu amigo partilha da mesma paixão que você.

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